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jueves, 30 de mayo de 2013

OS CAMINHOS DA IMPROVISAÇÃO TEATRAL

O teatro é ação, é acontecimento em convívio, e para o teatro ser teatro precisa da improvisação, inclusive numa peça com texto onde os atores se enfrentam diante de uma plateia que pode assistir a mesma cena umas mil vezes. A improvisação é necessária para que a peça continue viva, sem ela tudo vira uma repetição banal e sem sentido. A improvisação é a alma do teatro, é o que mantem o ator vivo, é o risco constante, o desafio de estar no palco frente a um público apresentando uma mentira, um mundo ficcional e diferente do mundo real, embora tão perto que simplesmente acaba poetizando o que já todos sabemos e sentimos.

Agora, se pensamos que a improvisação é a alma mesma do teatro, imaginemos o que é expor a alma sem o corpo, aliás, apresentar o improviso não como processo, e sim como resultado final. Foi isto o que pensaram há vários séculos os atores italianos da Comedia Del Arte, e há pouco tempo alguns diretores e teóricos como Viola Spolin[1] e Keith Johnstone[2], que revalorizaram a improvisação e a levaram à cena, expondo suas debilidades e virtudes. Este tipo de teatralidade improvisada foi chamado por muitos como Impro[3].

Falar de Impro leva-nos a uma discussão atual: Existe uma clara diferença entre Impro e Improvisação?[4] A Impro é teatro? É jogo? Eu particularmente penso que a Impro, tal e como ela está sendo concebida pela maioria dos improvisadores desta década, está mais relacionada com o jogo do que com o teatro, por isso a considero um jogo teatral. Não obstante, um dos caminhos pelo qual eu particularmente optei foi justamente o encontro entre a Impro e o teatro, ou seja, tomar as ferramentas do ator e entrega-las ao improvisador para que faça cenas sem preparação, mas com a mesma qualidade e poética de aquelas cenas escritas por autores no teatro de texto. Creio também que existe uma diferença entre Improvisação e Impro, e que esta última não se conforma num estado só, já que nem tudo o que se improvisa em uma cena cabe na mesma categoria; é por isso que existem diferentes formatos de Impro no mundo, especialmente os formatos curtos e longos. Nos formatos curtos, os jogos, os desafios e a metáfora do esporte são mais evidentes, as improvisações são rápidas e podem demorar entre dez segundos e dez minutos. Geralmente estes formatos são cômicos, já que o espetáculo se realiza com o objetivo de entreter o público, o que gera certa vulnerabilidade do ator frente a algo que ainda está por se fazer. Os formatos curtos mais conhecidos são: Teatro Esportivo; Match de Improvisação; Catch de Impro; Pedetemas; e Jogos de Impro; estes últimos massificaram a Impro a outro nível, convertendo-a em moda, já que hoje, especialmente em países como Brasil, a maioria de espetáculos de Impro é de formato curto de jogos, exemplo disso é o sucesso do espetáculoImprovável[5], da companhia Barbixas de Humor.

Apesar dos formatos curtos não terem a pretensão de serem considerados como obras de teatro, a finalidade de uma boa improvisação, independentemente do formato, é se aproximar cada vez mais do teatro. A Liga Nacional de Improvisação do Canadá assegura que “a Impro procura fazer sobre a cena o trabalho do autor, do diretor, do cenógrafo e do comediante” (Canadá, 1987, p. 44). Isto nos faz perceber que, de certa forma, a Impro não precisa do teatro para se sustentar, de fato seu grande potencial parece estar justamente na sua autonomia poética; assim, quem assiste a um espetáculo de Impro de formato longo de alguma maneira assiste também a uma peça de teatro com uma estrutura dramática improvisada, e toda estrutura dramática tem por natureza uma dramaturgia implícita.

Os formatos longos de Impro caracterizam-se por criarem improvisações que procurem a possibilidade de estender a ação dramática. Geralmente eles também pesquisam uma conexão mais forte entre o improvisador-ator e o improvisador-dramaturgo, ao contrário dos formatos curtos que buscam o improvisador-jogador. É justamente por este fato que se produzem, nos formatos longos, resultados próximos à linguagem teatral e afastados dos formatos esportivos. Esta investigação da técnica em outros níveis, que se aprofunda no campo da ação e a estrutura dramática, é uma pesquisa particular de cada companhia de Impro, desde à construção de personagens com maior profundidade até à criação de estórias com uma duração superior a dez minutos. É por isso que, independentemente da busca particular de quem assume um formato longo, sua finalidade hipotética e sinistra sempre será criar uma peça de teatro improvisada. Seu principal obstáculo está em dar o passo até o discurso dramático improvisado e em transformar as ações cotidianas próprias da Impro em ações dramáticas próprias do teatro não improvisado. Comumente estes formatos longos são tão particulares em cada companhia que até agora não existem muitas categorias definidas, com a exceção do Harold[6], que parece ser o antecessor de muitas outras investigações, principalmente no continente americano.

E para alimentar ainda mais a discussão e aprofundar a pergunta de “se a Impro é teatro”, poderíamos dizer, a partir de uma visão mais dramatúrgica baseada em alguns conceitos teatrais, que o texto dramático precisa de sentido próprio, de postura de autor. Que este texto necessita falar de alguma coisa que ainda não foi falada, ou que se quer expressar de uma forma particular, como disse Mikhail Bakhtin (2008) “o texto dramático só é possível a partir de uma moldura sólida, inquebrantável e fechada” (17), fundamentos que muitos outros teóricos também afirmam.

Qualquer que seja o caminho ou o formato, o melhor é saber que a Impro é um espaço de construção de sentido. Isto faz com que ela também seja um acontecimento teatral, e nós, improvisadores famintos por novas formas de improvisar, temos tantas opções como ideias, e podemos criar a partir do que temos, mas com o que ainda não foi improvisado, de modo que tenhamos autonomia, risco e objetivos para investigar, por que é assim que se forma um verdadeiro improvisador e não um ator improvisado.

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NOTAS
[1] Viola Spolin é considerada a “mãe norte americana” do teatro de improviso. Ela influenciou a primeira geração de artistas de Impro no mundo moderno graças à sua preparação de atores no Second City. Spolin sistematizou vários jogos teatrais inspirada pelos princípios defendidos por Brecht e Stanislavski. Entre seus livros mais importantes estão: Improvisação para o Teatro; e Jogos Teatrais: o Ficheiro de Viola Spolin.

[2] Keith Johnstone é um professor e diretor inglês que revalorizou e sistematizou a improvisação como uma técnica e um género teatral no século XX. Ele escreveu o livro Impro: Improvisação e O Teatro, que se converteu no guia básico dos improvisadores no século XXI. É o diretor da companhia canadense Loose Moose.

[3] Impro é a denominação dada à improvisação como espetáculo, que consiste em criar uma história, diálogo, cena ou conflito dramático a partir da resposta veloz a estímulos internos ou externos do ator frente a um objeto, ao entorno, a seus companheiros e ao público (De Lima e Muniz, 2007).

[4] Frank Totino (2011), se referindo a resposta de Keith Johnston frente à pergunta de se existe diferença entre a improvisação e a Impro, manifesta: “não existe diferença, já que se você está improvisando na cena, todas as técnicas, os exercícios, os jogos, serão unicamente usados para encontrar as historias” (Entrevista de investigación, 2011). Totino é o discípulo vivo mais próximo de Johnstone. Gestor do Keith Johnstone Workshops Inc. Produtor de Impro Vídeo e membro da Direção Jurídica Internacional Theatresports Institute. A entrevista foi realizada em abril de 2011 em São Paulo, no FIMPRO (Festival Internacional de Improvisação).

[5] Site do espetáculo Improvável. http://www.improvavel.com.br/

[6] Harold: Formato desenvolvido pelo ator estadunidense Del Close e sua companhia ImprovOlimpic de Chicago. Trata-se de “um espetáculo onde acontecem três cenas de maneira independente; elas interrompem-se sempre antes de se resolver, para logo se retomar em outras cenas ou em algum monólogo que realiza um dos improvisadores no meio” (32) O objetivo do Harold é estabelecer no final da sessão, o maio número de conexões entre os diversos acontecimentos que se deram nas cenas e nos jogos (32). (Caleti, 2009)


BIBLIOGRAFIA
- Bakhtin, M. (2088). Problemas da poética de Dostoievski. Rio de Janeiro: Forense Universitaria.
- Caleti, G. (2009). Impro Argentina, Apuntes e historia de la improvisación teatral. Buenos Aires: Ediciones de la Cooperativa Chilavert.
- Canadá, L. N. (1987). Rompan el Hielo, Guía para la organización de una liga de Improvisación. Ottawa, Ontario, Canadá: Théâtre Action y la LNI.
- De Lima e Munis, M. (27 de Mayo de 2007). www.textosdematch.blogspot.com. Recuperado el 24 de Noviembre de 2010, dehttp://textosdematch.blogspot.com/2007/05/la-improvisacin-como-espectcul...
- Johnstone, K. (1990). Impro, Improvisación y el Teatro. Santiago de Chile: Cuatro Vientos.
- Spolin, V. (2010). Improvisação para o Teatro (Traducción brasilera). São Paulo: Perspectiva S.A.
- Totino, F. (4 de Abril de 2011). Entrevista de investigación. (G. Miranda, Entrevistador)
Vío, K. (1996). Explorando el Match de Improvisación. Ciudad Real, España: Ñaque Editora.
PASSAGEIROS (Teatro de Improvisação. FIMPRO 2013)